sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sinestesia

Nas unhas, aquele esmalte vermelho sangue, meio descascado. Na ponta dos dedos, um cigarro. Duas tragadas, uma pausa. O pensamento devaneia por vãos desconhecidos. O sinestésico gosto pelo impossível, improvável se desprende do subconsciente. O ar de vida desregrada paira sobre a minha cabeça. As lembranças nostálgicas da noite anterior me trazem um gosto doce a boca.

Noite passada, a meia luz, sobre os seus estagnados olhos famintos que devoraram toda a minha alma, adormeço angustiada. Você apostou todas as suas fichas, mas a minha vida é um dado viciado, que apesar de fingir mudar de rumo. Cai sempre no mesmo número. Abro os olhos, você me aguarda sentado de frente para a cama, com um ar irreconhecível, totalmente transtornado.

Com olhos mortificados, mãos caídas rente ao corpo de quem apenas se jogou em uma cadeira. O suor escorre pela sua face, o seu rosto uma feição que eu nunca tinha visto. De repente, me levanto nua apenas enrolada ao lençol, você ignora a minha presença, caminha até o banheiro desferre um soco contra o espelho. Ele se espatifa em pedaços, seu punho agora sangra., você delira em um misto de êxtase e dor.Caminha em minha direção com um pedaço do espelho quebrado nas mãos, me dá chacalhões.Eu me seguro ao lençol, com os olhos bem abertos, a expressão de medo toma conta de mim.

O lençol se desenrola e cai do meu corpo. Você me olha, admira por algum tempo. Pega-me pelo braço,tapa a minha boca, e rasga lentamente o meu pescoço com o caco do espelho.

O sangue esguicha da veia do meu pescoço, num ritmo acelerado.Eu já me sinto pálida e quase insconciente.Você me solta.Eu caio no chão.Você olha nos meus olhos que estão semi-abertos.Cai de joelho,eu finalmente solto uma risada.-Não, não é a primeira vez que alguém faz isso comigo-

-Sim, senti um prazer com tudo isso.-
Você ainda de joelhos, olha para mim com ar de perturbado, mas já voltando a si.
Toma fôlego e diz apenas:Foi bom para você?

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